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Quando eu iniciei...

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Quando iniciei terapias em 2004, havia somente um punhado de nós.

Éramos poucos, quase todos conhecidos entre si, em Lisboa e arredores.

Carregávamos o rótulo de “estranhos”, os tais que falavam de energia, de alma e de cura.

Poucos nos entendiam… mas havia sempre aquele brilho nos olhos de quem se aproximava, uma curiosidade silenciosa que nos dava força para continuar.


Hoje, ao olhar à volta, vejo como tudo se transformou. Multiplicaram-se os cursos, os terapeutas, os títulos. E quase todos os que chegam às sessões trazem a mesma certeza: “A minha missão é ser terapeuta, tenho necessidade de ajudar outros.”


Mas será que todos viemos com a mesma missão?


O encanto e a fragilidade


Poucos me dizem que o seu propósito é ser artista, escritor, professor, ou mesmo exercer profissões hoje tão necessárias e valorizadas — como pedreiro, eletricista, jardineiro ou empregada de limpezas. Muitos carregam o medo de serem associados à vergonha de serem vistos como ‘pobrezinhos’.

Da mesma forma, mesmo sem condições de ter filhos, raramente alguém assume como missão ser ‘apenas mãe’, como se isso fosse um atentado à inteligência ou à evolução espiritual. No entanto, ser mãe é uma das missões mais sublimes: um ato de amor, de espiritualidade e de abertura do coração.

É justamente no gesto humilde destas profissões, ou na entrega da maternidade, que encontramos a expressão mais autêntica do verdadeiro sagrado.


Um prato preparado com amor pode curar um coração cansado.

Uma rua ou uma casa limpa ao amanhecer é um presente silencioso para todos.

Um professor que acredita num aluno planta nele uma esperança que pode mudar destinos.

Talvez estejamos tão sedentos de nos sentirmos especiais que esquecemos a grandeza da simplicidade.

E é aí que se revela a fragilidade de muitos corações: a ânsia de ter um título espiritual para se sentir digno de existir.


O verdadeiro ato de ajuda


Ser terapeuta é belo. Mas não mais belo do que ser alguém que, através do seu trabalho, seja ele qual for toca vida

com entrega, presença e verdade.


A missão de um terapeuta nasce muitas vezes das próprias feridas.

Só quem caminhou por vales, pedras e quedas com dor pode compreender, com empatia verdadeira, aqueles que chegam em busca de cura.


O sentir não se aprende em livros, nasce da experiência vivida, transformada em sabedoria e em luz partilhada.

Mas é importante lembrar: ajudar o outro de forma genuína não requer títulos, palcos ou certificados.

Requer apenas autenticidade. Porque cada gesto verdadeiro — seja numa sala de terapia, numa cozinha, numa sala de aula ou numa rua — pode ser o mais profundo ato de cura.


O que verdadeiramente toca é o que é autêntico. Está no simples gesto de dizer ‘bom dia’ à menina da caixa do supermercado ou a quem nos serve a bica de manhã. Está no sorrir e agradecer, reconhecendo a amabilidade de quem nos acolhe naquele instante — mesmo sabendo que, muitas vezes, essa pessoa também gostaria de estar noutro lugar, a satisfazer a sua própria alma.

É nesse pequeno gesto de presença e humanidade que se revela a verdadeira espiritualidade.


Uma semente para refletir


O facto de tantos se declararem “terapeutas por missão” não é motivo de crítica, mas de reflexão: revela o quanto nos sentimos perdidos, vazios de sentido, sedentos de pertença.

Talvez o caminho não seja uniformizar missões, mas recordar que cada vida tem o seu brilho único.

E que a espiritualidade maior é, afinal, fazer da nossa vida diária um espaço de serviço, cuidado e amor, seja lá onde for.


Paula Urbano



 
 
 

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Acerca de Mim

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Olá Eu Sou a Paula, e para que possas conhecer um pouco do meu percurso dentro desta área aqui fica...
Quase sempre inconformada com o sistema de educação tradicional e aberta à espiritualidade desde cedo, sempre busquei no horizonte o meu processo de ascensão, 

#Paula Urbano

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